Mostrando postagens com marcador machado de assis. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador machado de assis. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Machado na hemeroteca

 Não saberia como louvar com palavras justas o trabalho de digitalização dos jornais feito pela Biblioteca Nacional. Neste período difícil, enquanto não me posso permitir trabalhos de maior fôlego, percorro com prazer tanto o passado distante, quanto o passado imediato. Andei, por exemplo, pela revista A Estação, onde Machado publicou, entre outras obras, “O Alienista”. Está certo que aí o interesse foi utilitário: devo escrever algo sobre esse conto e por isso achei interessante ver onde e como foi publicado, onde foram os cortes, se eles coincidiram com as partes lógicas, se nos cortes há “ganchos” etc. Pode parecer uma tarefa sem sentido, mas talvez não seja nesse caso e em alguns outros. 

Antes, porém, de especular sobre isso, devo dizer que me divertiu ver os trechos de Machado entre brocados, espartilhos e todas as  notícias de figurinos franceses. Aquilo era o mundanismo impresso, o sonho de consumo das endinheiradas da época. E mostra que, de fato, o “leitora” com que Machado interpela a pessoa que lê pode ser lido em clave dupla: uma pragmática, pois o lugar de publicação tinha majoritariamente esse sexo como destinatário; outra irônica, no sentido de que a expectativa de leitura do suposto leitor ou do lugar, por um lado, e o objetivo e expectativas do autor, por outro, podiam não coincidir.

Agora voltando ao ponto. Mesmo que não se justificasse no caso de “O Alienista”, não é desprovido de interesse esse tipo de excursão temporal na materialidade das letras, porque devo escrever também, se a tanto me ajudar saúde e arte, algo sobre “Casa Velha”. 

Creio ter lido em Lúcia Miguel Pereira que ela considerava que a composição da “Casa Velha” era bem anterior à data da sua publicação. E mais: ela acreditava que o texto tinha sido desenterrado para cumprir obrigações jornalísticas. Já John Gledson discorda e atribui a esse mesmo conto a responsabilidade de fechar um quadro de análise temporal da sociedade brasileira. Isso quereria dizer que teria lugar de relevo na sua obra. De fato, até certo ponto o machadiano inglês faz dela uma espécie de chave para a compreensão da relação da ficção com a história.

Ora, confesso que desde o princípio concordei com ela e não com ele, porque não vi nunca maior atrativo nesse texto. Nem logo que li, nem mesmo depois de ler o livro do Gledson, nem hoje. Parece-me uma pouco interessante retomada dos romances primeiros de Machado, algo portanto deslocado em relação ao que ele fez depois da “virada” das “Memórias Póstumas”.

Talvez por isso me interessasse ver como se recortou, para publicação em “A Estação”, o texto de “Casa Velha”. E o que vi foi que o corte é, por assim dizer, aleatório. Não se faz de acordo com as partes lógicas do enredo, nem segundo “ganchos” narrativos. Também a extensão das partes é muito variável. Isso poderia simplesmente significar que o texto não foi pensado como folhetim, ou melhor, como publicação seriada. Mas creio que não. Creio que essa constatação só reforça a minha concordância com Lúcia Miguel Pereira: o texto parece mesmo ter sido um tampão, por assim dizer. O que havia à mão para cumprir o compromisso.

Em seguida, abandonando o século XIX, de um salto mergulhei no suplemento literário do Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, onde fiquei zanzando pelos meados da década de 1950, com outras confirmações ou descobertas divertidas. 

Ah, as maravilhas da tecnologia! E pensar que quando fiz a dissertação sobre a poesia concreta tive de ficar quase 15 dias no Rio de Janeiro, porque a BN estava em crise e os andares funcionavam em dias alternados... Era então muito difícil obter microfilmes. E nem se imaginava que um dia houvesse celulares para fotografar o que interessasse! Quando mais que um dia, de um lugar qualquer, com um simples notebook, sem pedidos a bibliotecários bem ou mal humorados, arquivistas lentos ou rápidos, se pudesse ter acesso quase instantâneo à memória dos séculos...

quarta-feira, 12 de junho de 2013

O Primo Basílio e a Batalha do Realismo no Brasil



O Primo Basílio e a Batalha do Realismo no Brasil

[[VER AO FINAL, PARA MELHOR CONFIGURAÇÃO DO "BASILISMO", A TABELA DE PUBLICAÇÕES]]


O Primo Basílio foi posto a venda em Portugal em fevereiro de 1878.[1] Cerca de um mês depois, na Gazeta de Notícias do dia 25 de março, aparece publicada a primeira nota sobre ele na imprensa brasileira.[2] Trata-se de um artigo do escritor português Ramalho Ortigão, correspondente do jornal carioca.
Datado de Lisboa, 22 de fevereiro, traz já para o centro do debate a questão da imoralidade do romance, que será a tônica da maior parte dos textos publicados nos meses seguintes.
Segundo Ramalho, os pontos altos do livro são o estilo e a construção das personagens Luísa e Juliana. Já os defeitos seriam três: a figura de Basílio, a crueza das cenas e dos temas e a ausência de paixões fortes nas personagens.
Ramalho não julgava bem construído o caráter de Basílio, porque não lhe parecia verossímil que um português que viera para o Brasil, voltara rico e estava em Lisboa a negócios, pudesse ter uma compleição moral como a que Eça lhe atribui. As virtudes do trabalho, que o teriam enriquecido, não combinariam com a sua afetação de toalete, nem com a canalhice do seu comportamento com Luísa.
Esse era o primeiro defeito do livro. O mais grave, porém, era o que apontava na seqüência: a objetividade despudorada de muitas passagens:

a delicadeza do gosto – escreve ele – revolta-se muitas vezes contra essa fidelidade sistemática dos pormenores. As cenas d’alcova são reproduzidas na sua nudez mais impudica e mais asquerosa. As páginas que as retratam têm as exalações pútridas do lupanar, fazem na dignidade e no pudor largas manchas nauseabundas e torpes como as que põem nos muros brancos os canos rotos.

E com esta terceira ressalva, completava a lista dos defeitos:

com exceção de Juliana, a única pessoa forte do livro, as paixões dos outros, para assim dizer negativas, não são feitas de força, como as paixões de Balzac, são feitas de acumulações de fraquezas.

O livro de Eça, de que foram impressos 3000 exemplares, não parece ter demorado mais do que algumas semanas para estar acessível no Brasil. De qualquer forma, a fama de obscenidade precedeu a chegada do volume, e já parecia instalada poucos dias depois do artigo de Ramalho.
De fato, em 6 de abril, na primeira edição de um novo periódico ilustrado, intitulado O Besouro, uma piada expunha o ponto-chave da recepção do livro:

Encarecendo o merecimento do romance O Primo Basílio, de Eça de Queirós, dizia anteontem no ponto dos bondes um cavalheiro a uma dama:
– V. Exa não faz uma idéia! Que verdade, que estudo e que observação tem O Primo Basílio! Tudo aquilo são cenas que podem um dia acontecer entre mim e V. Exa.

Estava dada a partida para o que seria uma polêmica de grande repercussão.
Na seqüência, a Gazeta publica, em 12 de abril, um texto assinado por “L.”, pseudônimo do diretor do jornal, Ferreira de Araújo, que ressalta, como Ramalho, as qualidades do estilo de Eça e repisa a questão moral.
No que diz respeito às personagens, Ferreira de Araújo não vê nelas nenhuma inconsistência. Pelo contrário, entende que, se há algum problema na sua construção, é o da excessiva consistência, que tende a transformá-las em tipos, ou, como também diz, em sínteses generalizadoras: “escolheu – escreve –, dentre todas as criadas, as qualidades com que devia criar a sua”.
O problema central do romance, para Ferreira de Araújo, é o valor educativo. A exibição do vício, da depravação não lhe parece a melhor estratégia para a reforma dos costumes:

que a sociedade precisa modificar-se, ela própria o sabe; mas o que ela não deseja nem quer é que se ensine a toda ela o que só alguns dos seus miseráveis membros sabem; membros que se não regeneram nem melhoram, e que serão com certeza os mais assíduos leitores das páginas do Paraíso.

Daí decorre a condenação do efeito de objetividade narrativa, característico da escola, que, ao invés de excluir o feio e o desagradável, busca-o com predileção. Por conta dessa característica, Araújo restringe o valor moral do livro à segunda parte, na qual a “moralidade da fábula” lhe parece positiva:

as torturas que o adultério faz sofrer à esposa (...) são escritas com mão de mestre, e seria um salutar remédio que devia ser aplicado a todas, que estão a pique de perder-se.

Sua apreciação do caráter do romance é, por isso mesmo, muito matizada, conduzindo ao flerte com a censura:

este livro devia ser receitado, na sua última parte, como preservativo; mas devia ser como os remédios aplicados na ocasião própria, e não a torto e a direito.

E termina por uma observação irônica, que será depois retomada e celebrizada por Machado de Assis:

Haverá muitos que julgarão que a obra do Sr. Eça de Queirós não é um serviço feito às que ainda se não deixaram submergir no charco do adultério, mas uma lição às que já o fizeram; quererão ver no que produz a catástrofe, no que rasga o véu que encobre os olhos de Jorge, nessa carta que chega a propósito para a resolução da crise dramática, um conselho, um aviso, uma presunção às incautas, e tiram, como moralidade, a conveniência que as mulheres casadas têm em queimar as cartas dos amantes, para que as criadas não as encontrem no cesto dos papéis velhos.

No dia seguinte ao da publicação do texto de Ferreira de Araújo, O Besouro traz uma charge de Rafael Bordalo Pinheiro, na qual se vê um comendador velhote, casado com uma jovem, que lhe apresenta um janota.
O diálogo é simples:

Madame *** – O primo Quincas que volta de Paris.
O comendador (à parte) mau... mau...

Três dias depois, em 16 de abril, é publicado em O Cruzeiro, sob o pseudônimo Eleazar, o primeiro artigo de Machado de Assis: “Literatura realista – O Primo Basílio, romance do Sr. Eça de Queirós”.
Nesse texto, tão conhecido que dispensa comentários detidos, Machado começa por criticar o livro anterior de Eça, O Crime do Padre Amaro, por tratar o “escuso” e o “torpe” com um “carinho minucioso”, por relacioná-los com uma “exação de inventário”.[3] E continua pela afirmação de que O Primo Basílio é uma reincidência devida ao sucesso do primeiro.
Na seqüência desenvolve a crítica em três flancos.
O primeiro é propriamente estético: a inconsistência moral da personagem Luísa, que seria apenas um títere, sem vontade nem organicidade.
Desse primeiro, decorreria o segundo defeito, que é a ausência de ensinamento ou mesmo tese. Retomando, a esse propósito, o artigo de Ferreira de Araújo, escreve:

Se o autor, visto que o Realismo também inculca vocação social e apostólica, intentou dar no seu romance algum ensinamento ou demonstrar com ele alguma tese, força é confessar que o não conseguiu, a menos de supor que a tese ou ensinamento seja isto: – A boa escolha dos fâmulos é uma condição de paz no adultério.

Por fim, o terceiro defeito, o ponto que Machado qualifica de “grave”, “gravíssimo”: a imoralidade do romance, que chega “ao extremo de correr o reposteiro conjugal”, de talhar “as suas mulheres pelos aspectos e trejeitos da concupiscência”, de ressaltar a sensualidade. O aspecto impudico do livro é o ponto central da crítica de Eleazar: “o tom é o espetáculo dos ardores, exigências e perversões físicas”, diz ele.
Evidentemente chocado, termina por um alarma: se Eça de Queirós continuar a escrever outros livros como O Primo,

o Realismo na nossa língua será estrangulado no berço; e a arte pura, apropriando-se do que ele contiver aproveitável (porque o há, quando não se despenha no excessivo, no tedioso, no obsceno, e até no ridículo), a arte pura, digo eu, voltará a beber aquelas águas sadias d’O monge de Cister, d’O arco de Sant’Ana e d’O Guarani.

            O “espetáculo dos ardores”, denunciado por Machado, tem um ponto alto, que forneceu assunto a muitas charges e piadas. Trata-se de uma cena no “Paraíso”, no capítulo VII. É esta:

[Basílio] ajoelhou-se, tomou-lhe os pezinhos entre as mãos, beijou-lhos; depois, dizendo muito mal das ligas ‘tão feias, com fechos de metal’, beijou-lhe respeitosamente os joelhos; e então fez-lhe baixinho um pedido. Ela corou, sorriu, dizia: não! Não! – E quando saiu do seu delírio tapou o rosto com as mãos, toda escarlate, murmurou repreensivamente.
        Oh Basílio!
Ele torcia o bigode, muito satisfeito. Ensinara-lhe uma sensação nova: tinha-a na mão!

            Por conta dessa cena, a expressão “sensações novas” invadiu a mídia carioca.
            No dia 20 de abril, O Besouro publica uma historieta assinada por certo Dr. Calado. Basílio vai para o Paraíso e lá se encontra com Pio IX (que morreu em fevereiro daquele ano de 1878 e se notabilizou, além do seu reacionarismo, por ter proclamado o dogma da Imaculada Conceição).
            Perfumado, Basílio ataca S. Pedro, que desmaia numa nuvem. Quando S. Pedro acorda, encontra Basílio cofiando os bigodes, como na cena famosa com Luísa. Basílio lhe diz que o desmaio foi causado pelo “perfume de Lubin”. E S. Pedro retruca:

Meu querido Basílio, [...]! Tens-me na mão! Ensinaste-me uma sensação nova! [...]

            No desenlace, Basílio foge do céu ao se ver ameaçado, por Pio IX, de ter de mostrar a sensação nova a todo o Sacro Colégio...
            Nesse mesmo dia 20 de abril, a Gazeta traz mais um texto sério que se ocupa do romance, assinado por Henrique Chaves.
Esse homem, hoje esquecido, foi assunto de uma crônica notável de Machado, em 1893, em O Álbum, na qual é descrito como “o avesso do medalhão”.
Chaves contesta, uma por uma, as críticas feitas por Machado/Eleazar. Seu argumento básico é que “Eleazar é evidentemente adverso à escola a que se filiou o autor do Crime do Padre Amaro, e necessariamente por isso é obrigado a combater a causa e o efeito, a escola e o livro”. E termina por retomar, a favor da nova escola, a esperança de continuidade da herança romântica de Machado:

É nossa crença também que a herança de Garrett se transmitirá às mãos da geração vindoura; porém o que não podemos também deixar de acreditar é que o tempo há de forçosamente ir deixando os indubitáveis vestígios da sua influência.
Podem os que não aceitam o realismo formar as colunas cerradas da sua resistência, esta será inútil porque as colunas sucumbirão ao peso do grande colosso que se chama simplesmente a verdade.

No dia 23 de abril, Luís de Andrade assina, na Gazeta, a única ratificação de um dos pontos da crítica de Ramalho Ortigão, concordando em que Basílio era um caráter improvável, pois, sendo um canalha, jamais poderia ter enriquecido no comércio...
No dia seguinte, 24 de abril, o médico Ataliba Gomensoro, sob o pseudônimo de Amenophis-Effendi, retoma e desenvolve os argumentos anti-Eleazar de Henrique Chaves, situando Machado no campo romântico e conservador:

o mundo caminha, e se alguém houvesse que aproximadamente escrevesse um romance como o Monge de Cister não seria esse livro tão apreciado como antes, porque já não estaria com a época, perfeitamente caracterizada.

Já então O Primo Basílio era o assunto por excelência da imprensa do dia. E o recém-fundado O Besouro aproveitava a onda.
No dia 27 de abril, o periódico traz nada menos do que 5 trabalhos centrados na polêmica do realismo. Dois dos quais trazem referências diretas a Machado de Assis.
O primeiro é um poema dedicado “Ao L. da ‘Gazeta’”, isto é, a Ferreira de Araújo.
O poema se intitula “As botas de Eleazar” e consiste no achincalhe de um apólogo publicado por Machado em 23 de abril, em O Cruzeiro, intitulado “Filosofia de um par de botas”.[4]


Na versão do Besouro, ressalta o ridículo da situação: o escritor, após um almoço excessivo, não encontra maior objeto para o seu “estilo ardente” do que as botas velhas “tão rotas! / batidas de vento e mar!”. O quadro é cômico pela desproporção entre o estilo atribuído a Machado e os objetos do seu texto, que aparecem como uma versão diminuída do gosto romântico por ruínas.[5]
O segundo é uma charge de Bordalo Pinheiro, intitulada “Literalogia”.
Sob esse título, lê-se que a cena é o “Casamento do Comendador Mota Coqueiro e de Iaiá Garcia”. No desenho, uma emotiva e lânguida Iaiá revira o olho para Basílio, que surge janota, com olhar safado. O texto da charge diz:

No momento em que Iaiá Garcia e o Sr. Mota Coqueiro recebem a voz, dada pelo bojudo medianeiro dos idealismos, cai, como um raio junto aos cônjuges, o Primo Basílio que, tendo esgotado em sensações novas toda a borracha do Paraguai, volta a explorar a borracha do Pará esperando igual êxito. Ao ver, porém, Iaiá Garcia casando por conveniência com Mota Coqueiro, homem que apenas se prende às sensações do seu negócio, embeve-se [sic] no tranqüilo olhar cor de rosa onde se refletem os azulados raios da argêntea lua; e suspenso em êxtase das áureas e vastas madeixas cor de cenoura da poética Iaiá, atira para trás das costas a borracha do Pará e diz: – Estava transviado! Estou confundido. – Esta Iaiá é quem me vai dar sensações novas! Olaré!

A alusão a Machado é clara no título e sua caracterização literária na paródia da linguagem romântica em que a legenda é vazada. O “gancho” da charge é um dado temporal: a coincidência entre a publicação em folhetins de Iaiá Garcia, cujo último fascículo saiu em O Cruzeiro no dia 02 de março, e o lançamento da edição impressa em volume na mesma época em que saía o Primo Basílio.[6]
A alegoria se baseia nisso: exatamente no momento em que Iaiá se casa no final do romance romântico, no qual é enaltecido o sacrifício de amor, chega à arena literária brasileira, fulminante, o tema do adultério e da sensualidade obscena. A distorção da cena do casamento, que aparece como conveniência, permite juntar de modo econômico os dois modelos de casamento que convivem no romance machadiano.
Do ponto de vista literário, a maior crueldade é a associação do romantismo com o interesse conservador, representado no padre, “o bojudo medianeiro dos idealismos”, impotente para impor o velho decoro e conjurar a presença da componente moderna que vinha colorir o tema, com a exibição e atração das novas sensações adulterinas.
Além das referências já localizadas, deve haver ainda muitos textos por descobrir, pois no dia seguinte à charge de O Besouro, uma crônica da Gazeta registra que “têm notado os malignos que foi acabar a febre amarela e logo surgir o basilismo”.
A polêmica séria, por sua vez, continua paralela ao alarido de escândalo da imprensa, e tem outro grande momento dois dias depois dessa nota, em 30 de abril, quando Machado de Assis responde, sempre em O Cruzeiro, às ressalvas de Gomensoro e Chaves.
Seu texto se concentra em duas frentes de combate: a crítica ao seu reparo sobre a consistência moral de Luísa e sobre o recurso à carta roubada como defeito do romance; a acusação de moralismo estreito, que lhe apresentara Gomensoro, ao mencionar o erotismo do Cântico dos cânticos de Salomão. Nos dois casos, Machado se defende por meio da intensificação das razões que já apresentara no texto anterior. Sobre o remorso de Luísa, que lhe fora trazido como contra-argumento, insiste em que ele “não é a vergonha da consciência, é a vergonha dos sentidos”. Já sobre o contra-exemplo do Cântico dos cânticos, escreve:

ou recebeis o livro, como deve fazer um católico, isto é, em seu sentido místico e superior, e em tal caso não podeis chamar-lhe erótico; ou só o recebeis no sentido literário, e então nem é poesia, nem é de Salomão; é drama e de autor anônimo.

Por fim, insiste no problema da imoralidade do romance:

Se eu tivesse de julgar o livro pelo lado da influência moral, diria que, qualquer que seja o ensinamento, se algum tem, qualquer que seja a extensão da catástrofe, uma e outra coisa são inteiramente destruídas pela viva pintura dos fatos viciosos: essa pintura, esse aroma de alcova, essa descrição minuciosa, quase técnica, das relações adúlteras, eis o mal. A castidade inadvertida que ler o livro chegará à última página, sem fechá-lo, e tornará atrás para reler outras.

Machado ainda voltará ao assunto. Mas até que volte, dia após dia, O Primo permanecerá no centro das atenções literárias, com novas apreciações críticas e dando ensejo a muitas alusões marotas. Em 3 de maio, Amenophis Effendi responde ao segundo artigo de Eleazar. No dia seguinte, 4 de maio, é a vez de O Besouro registrar a “epidemia de basilismo”. Da qual, diga-se, o periódico é um dos principais disseminadores.
Do ponto de vista dos rumos futuros da literatura brasileira é notável que, alguns dias depois, em 8 de maio, O Primo vá aparecer como “gancho” jornalístico para uma nova frente de polêmica sobre o realismo, agora no campo da poesia. Trata-se da “Guerra do Parnaso”, um episódio importante, embora pouco referido, que passou a integrar a história literária recente quando Bandeira publicou, em 1938, o volume da Antologia dos poetas brasileiros dedicado à “Poesia da fase parnasiana”.[7]
Travada majoritariamente nas páginas do Diário do Rio de Janeiro, a Guerra, que se estendeu depois a outros órgãos da imprensa carioca, inicia-se com este poema:

Aos vates da Paulicéia
I
Poetas da Paulicéia,
A musa da Nova-Idéia
Tem tomado surra feia.
Que praga!
Se lhe não trazeis auxilio,
A escola que fez Basílio
E que baniu o idílio
Naufraga.

II
Os amigos da realeza
Têm dado bordoada tesa
Na musa da Marselhesa
Sem pena!
Poeta dos Devaneios!
Chegai-vos, sem mais rodeios,
Para o circo dos torneios,
À arena!
[...]

Organizavam-se na poesia também, a partir daqui, os campos da batalha: realistas de um lado, românticos de outro. E Machado de Assis, na época, segundo a percepção dos contemporâneos, militava nas hostes católicas, conservadoras e românticas.
Por isso mesmo, era objeto das sátiras dos defensores da Idéia Nova, que escreviam em O Besouro, no qual, em 11 de maio, outra obra sua é satirizada, num poema intitulado “Depois da Missa” e assinado por “O Mateus Aguiar”.
O objeto é agora um diálogo em versos, intitulado “Antes da missa”, que Machado publicara uma semana antes, sempre n’O Cruzeiro.[8] Trata-se de um diálogo de duas senhoras sobre as futilidades da sua vida pessoal e social, no qual reponta, apenas ao fim e muito indiretamente, o tema da insatisfação com o casamento.
Num momento em que se apresenta como grande questão literária a consistência ou inconsistência da personagem Luísa, e no qual os jornais debatem com escândalo a linguagem despudorada de Eça, a peça machadiana, vazada em alexandrinos rimados e de andamento duro, que retiram naturalidade ao diálogo, deixa-se facilmente reduzir a cena galante e irrelevante. As tímidas insinuações finais, por sua vez, fornecem o alimento da sátira, cujo teor é já indicado pela inversão temporal do título, fazendo de Eleazar um beato, numa alusão ao fato de O Cruzeiro ter perfil católico.
O poema começa, faceto, com uma referência direta aos dois artigos de Machado sobre O primo Basílio:

Depois daquele par
            Eleazar
Faz tudo agora aos pares:
Fez as botas – fez as damas
– Umas coisas singulares.

E prossegue, identificando a escola do autor, e glosando o tema do duplo:

Qualquer dia Eleazar
            Deita um par
            De dramas
Bem românticos e iguais:
Uns dramas duma Francisca
Com duas mães e dois pais.

Na última estrofe, desenvolve-se o tema apenas insinuado ao final da cena machadiana, o da infidelidade conjugal.

E Eleazar
Que, depois daquele par
De botas tão singulares,
Tão bem risca e tanto à risca,
Enredando tudo aos pares,
            Eleazar,
É capaz de dar
            Um par
De maridos à Francisca.

A picada da sátira, claro, reside na utilização sardônica da palavra “marido” no plural, que se insinua como uma adaptação do tema do adultério ao suposto universo pudibundo do autor.
            Também nas páginas do Diário do Rio de Janeiro, onde corre solta a “guerra do Parnaso”, Machado vem identificado, num poema publicado no mesmo dia 11, entre os “da velha escola”:

                                   II
Bardos da velha escola, a mim vossos perdões,
            Vossas desculpas, se
Ao sebo fui vender hoje Revelações,
            Livro que até nem li.
Se não tenho na estante a triste Nebulosa,[9]
            As Falenas do Assis...[10]
Passei pelo livreiro; e a musa lacrimosa
            Vendiam-me; não quis.

            A maior parte dos versos da Guerra tem interesse restrito. Mas é digno de registro um poema no qual a própria Guerra passa a ser objeto de piada, porque nele comparecem novamente em oposição o primo Basílio, já quase tornado substantivo comum, e Iaiá Garcia:

NO MEU BAIRRO

Um pálido Basílio, um sacudido moço,
Ao lado de uma bela, esplêndida conquista,
Fazia tilintar as chaves no seu bolso,
Enquanto ela entre as mãos fechava abrindo o leque,
            - Um quadro realista!
             Ela ia começar a fase que era: "Emprazo-
             lhe..." quando ouviu-se perto o grito do moleque:

- A Gazeta... O Diário... A Guerra do Parnaso!

A primeira disse então: Meu Deus! Que significa!...
Só guerra e guerra só!... Uma questão política?...
- Não, disse-lhe o Basílio. És a melhor das tolas!...
Aquilo é simplesmente uma questão de escolas
Poéticas... mais nada... O velho romantismo
Entende inda viver a luz do realismo...
O romantismo é isto: uns astros invisíveis,
Uns anjos ideais... a divindade em Cristo...
Os Pietros, as Iaiás... uns tantos impossíveis,
Que vivem, que têm forma e que ninguém os vê.
Agora o realismo... o realismo é isto:
............................................................ E
O céu embriagava as solidões, em torno,
A vinhos de luar esbranquiçado e morno![11]

Machado ou as suas obras, nesse conjunto de textos, acabará por ser sempre associado ao romantismo, como se vê nestes versos, publicados uma semana mais tarde:

ROMÂNTICO

Ele anda por toda a parte
A namorar as Helenas
Por isso frisa com arte
Aquelas longas melenas.

Vive a fitar as estrelas
Tem assim ares de empírico:
E apaixona a todas elas
Por ser... um poeta lírico.

[...]
(Lins d’Albuquerque)

            Paralelamente, a campanha antibasilista ganha corpo com a transposição do romance para o teatro. Assim, A Lanterna, em 17 e 23 de maio, vai condenar não só o romance, por ser um “escândalo, grosso, pesadão e indigesto”, mas principalmente o fato de que esse “romance sujo” agora acabava por alastrar a sua sujidade aos palcos, onde era muito mais acessível e podia, pois, multiplicar o mal. Não a vou seguir aqui longamente, entretanto, porque o seu interesse diminui muito, tanto do ponto de vista crítico, quanto do ponto de vista literário. O único texto a destacar, sobre a adaptação ao palco, é o que Machado assina, numa Nota Semanal de 7 de julho, na qual afirma que “os realistas” continuam “na doce convicção de que a última palavra da estética é suprimi-la” e escreve este julgamento sobre o que julga um nome tutelar da nova escola:

            Baudelaire “é um dos feitiços da nova e nossa igreja; e, entretanto, sem desconhecer o belo talento do poeta, ninguém em França o colocou ao pé dos grandes poetas; e toda a gente continua a deliciar-se nas estrofes de Musset e a preferir L’Espoir em Dieu a Charogne.”

Entretanto, antes de dar por terminada a resenha crítica e o novidade da polêmica, é preciso referir, ainda que brevemente, um texto que permaneceu desconhecido da crítica.
Trata-se de um longo artigo assinado por “Neotes” e intitulado “Um resposteiro ao Primo Basílio – esboço crítico realista”. Foi publicado em duas partes, em 26 e 27 de maio, no Diário do Rio de Janeiro, onde também vibrava a Guerra do Parnaso.
Em linhas gerais, o texto resume com serenidade os pontos da polêmica anterior. Reconhece como principal qualidade do livro o estilo do autor, a sua flexibilidade, a frase envolvente e a modernidade da dicção e termina por apontar o caráter dissolvente da leitura. Mas o faz de forma muito modalizada, sem julgamentos peremptórios, indicando perceber a complexidade da construção do livro e, especialmente, do caráter de Luísa.
Embora o artigo termine ambiguamente por reclamar que Eça desse melhor uso ao seu enorme talento do que incentivar a devassidão, instando-o a encontrar maneiras não de denunciar a fraqueza da mulher, mas de contribuir para torná-la forte, a verdade é que se trata de uma das apreciações mais compreensivas e abrangentes do romance, dentre as publicadas naquele ano de 1878.
Traçada a história das repercussões várias do livro de Eça, penso que é possível agora especular – a partir do modo como Machado aparecia aos contemporâneos, naquele final da década de 70, por ocasião do grande sucesso do livro de Eça de Queirós, e a partir do sua aversão ao Realismo – sobre o que, na sua atividade crítica posterior, poderá talvez ser visto, ao menos parcialmente, como desenvolvimento e conseqüência das posições tomadas nesse momento.
Como disse há pouco, uma vertente da batalha do realismo ficou quase esquecida, até ser descrita, no final dos anos 30, por Manuel Bandeira, no prefácio à sua antologia da poesia parnasiana. A leitura desse texto permitirá destacar o ponto que me interessa, que é a maneira como, após transcrever, em três páginas, trechos de poemas da “Guerra”, Bandeira marca a distinção entre a Idéia Nova realista e o Parnasianismo, que é o foco da sua atenção.
Sua primeira providência é esclarecer o sentido do qualificativo “do Parnaso”:

Não se entenda aqui ‘Parnaso’ como sinônimo de Parnasianismo. A batalha chamou-se do Parnaso porque os golpes se desfechavam em versos (aqui sempre incorretos, na gramática e na metrificação, segundo os cânones parnasianos posteriores).[12]

Desvinculando desde logo o ‘realismo’ do ‘parnasianismo’, por conta da “incorreção” dos primeiros, Bandeira prossegue informando que em 1878 “não se falava de Parnasianismo: falava-se sempre e muito era de ‘Realismo’, ‘Nova Idéia’, ‘ciência’, ‘poesia social’.” O termo “parnasianismo”, esclarece, só aparecerá em 1886.
Para o poeta modernista, a Guerra do Parnaso é apenas um momento de passagem para o Parnasianismo. Ponto de partida, ou, na melhor versão, Parnasianismo em estado larvar: “Nesse longo evolver da Idéia Nova para as formas parnasianas o primeiro marco importante foi, como já dissemos, as Fanfarras de Teófilo Dias.”.
Preocupado sobretudo com a forma do verso,[13] Bandeira reconhece na Idéia Nova e no Parnasianismo a base comum de afastamento programático da atitude romântica. Mas a concentração no aspecto formal o impede tanto de observar mais atentamente a poesia da nova geração, quanto de anotar o papel ativo que teve Machado para que tal “evolver” se processasse.
De fato, ao longo do texto “A nova geração” – publicado no ano seguinte à publicação do Primo Basílio – o autor de Helena insistiria, pelo menos uma dúzia de vezes, na “incorreção” dos versos realistas, preocupando-se também em apontar, nos novos que não eram “realistas”, os ecos, as influências nocivas menos diretas da escola.
Foi o que fez ao examinar o primeiro livro de Alberto de Oliveira, as Canções românticas. Machado muito claramente o distingue dos realistas, mas é ao perceber o que julga uma influência do método de composição realista (o verso sobre os cães, no final de Interior) que qualifica o realismo como a “estética do inventário”.[14]
Ora, Alberto de Oliveira, que depois será considerado um dos grandes parnasianos, vinha de participar da “Guerra do Parnaso”. Comentando, cinqüenta anos depois, o episódio, o poeta o vincula à Questão Coimbrã, aparentemente incluindo-se nas hostes da Idéia Nova: “em 1865 e 1866 tinha-se manifestado em Portugal a ‘escola coimbrã’ com Teófilo Braga e Quental e Vieira de Castro que tiveram alguma influência sobre nós”.[15]
Entretanto, Alberto de Oliveira, assinando com o pseudônimo “Lírio Branco”, cerrou fileiras nas hostes românticas. Em 22 de maio, vemo-lo publicar um longo poema no qual celebra as “castas Julietas”, condena “a malta sem pudor que se alevanta agora”, bem como os que parecem querer levar a sua doce companheira, a musa romântica, às chamas da fogueira, em nome “da doutrina imoral, do torpe realismo”.
A partir da crítica de Machado, Alberto completará a sua evolução para a forma correta, reforçando os traços de bom gosto que o autor de Helena nele descobrira.
Evolução que, segundo o próprio Machado, já estará quase terminada em 1884. É  que diz no seu prefácio a Meridionais, rememorando a crítica de 79: “os versos do nosso poeta são trabalhados com perfeição”.[16] Mas na continuação do texto, adverte: “os defeitos, que os há, não são obra do descuido (...) Nascem, – ora de um momento não propício,  – ora do requinte mesmo do lavor”. Ou seja, é defeito tanto a qualidade da inspiração, quanto a atenção excessiva à forma que vem em seu prejuízo (”o muito mimo empece a planta”, diz Machado).
O que fica do livro de Alberto, que depois será uma das balizas do Parnasianismo triunfante – e, dos três corifeus, o que apresenta hoje menor interesse de leitura – é, para Machado, a medida justa, o equilíbrio entre a espontaneidade e o lavor formal: “a troco de umas partes laboriosas, acabadas demais, ficam as que o foram a ponto, e fica principalmente o costume, o respeito da arte, o culto do estilo”. E é assim que o autor de Memórias Póstumas conclui a sua apreciação: “Se alguma vez, e rara, a ação descrita parecer que desmente da estrita verdade, ou não trouxer toda a nitidez precisa, podeis descontar essa lacuna na impressão geral do livro, que ainda vos fica muito: – fica-vos um largo saldo de artista e de poeta, – poeta e artista dos melhores da atual geração”.
 Na mesma direção ia já o seu prefácio ao livro de Francisco de Castro, datado de 4 de agosto de 1878, ainda no rescaldo da polêmica sobre O Primo. Registra aí Machado que a nova geração “hesita entre o ideal de ontem e uma nova aspiração”. A recomendação de Machado é a mesma que fizera a Eça de Queirós: evitar a quebra de continuidade, retomar a linha sadia dos clássicos da língua, ameaçada pela artificialidade e pela moda naturalista: “Citei dois mestres [Basílio da Gama e Gonçalves Dias]; poderia citar mais de um talento original e cedo extinto, a fim de lembrar à recente geração, que qualquer que seja o caminho da nova poesia, convém não perder de vista o que há de essencial e eterno nessa expressão da alma humana.”[17]
É também a direção seguida em 1882, no prefácio às Sinfonias, de Raimundo Correia, no qual valoriza os “Perfis românticos” e condena a parte do livro que é “militante”, na qual o autor exibe “opiniões radicais” e se mostra “republicano e revolucionário”, terminando por valorizar a forma esmerada e a emoção lírica.
Esse conjunto de textos de Machado, especialmente o ensaio de 1879 sobre “a nova geração”, será a base mais comum de elaboração dos padrões de gosto e de valor que orientarão a historiografia literária imediatamente subseqüente. E das suas eleições canônicas, como a trindade parnasiana formada por Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac.
O Parnasianismo, substituindo-se à conotação sempre escandalosa que a palavra “realismo” terá no final do século XIX, se deixará descrever como poesia pautada pelo bom senso e pelo bom gosto, caracterizada pela perfeição rígida da forma e obcecada pela correção lingüística de sabor didático e ostensivamente arcaizante, bem como pela intenção edificante. Do antigo apelo “realista” pouco restará, exceto os quadros altamente erotizados da obra de Bilac. Da designação, em poesia, quase nenhum rastro.
No que diz respeito à denominação, apenas tardiamente será redescrito o período de modo a incluir nele uma vertente “realista”. Isso ocorreu, pela primeira vez de forma significativa, com Péricles Eugênio da Silva Ramos, no Panorama da poesia brasileira, de 1959, e em “A renovação parnasiana”, capítulo que escreveu para a História da literatura no Brasil, na mesma época.[18]
Até então, o consenso era a análise de José Veríssimo, cuja História estava em 3a edição (a primeira é de 1916). Utilizando, em sentido amplo, a palavra “naturalismo” e nela absorvendo o que, no tempo de Machado, se chamava “realismo”, Veríssimo postula que “não houve no Brasil, como não houve em parte alguma, poesia a que se possa chamar de naturalista no mesmo sentido em que se fala de romance, e ainda de teatro, naturalista”. A razão, acredita, “é que não existe poesia sem certa dose de idealismo, incompatível com tal naturalismo”. Daí que conclua: “Ao feitio poético que no Brasil correspondeu ao naturalismo no romance (...) chamou-se parnasianismo. Naturalismo e  parnasianismo são ambos filhos daquele movimento”.[19] Disso resultam duas conseqüências. A primeira é esta: “enganavam-se redondamente, como ao tempo lhes mostrou Machado de Assis, os imitadores indígenas de Baudelaire que nas Fleurs du Mal buscavam justificação do seu realismo ou naturalismo. E a sua inteligência os condenou à imitação pueril e falha”. A segunda é fixar o Parnasianismo, ao menos na parte em que lhe reconhecia valor, como resultado do influxo de cuidado formal e da contenção lírica sobre a inspiração romântica, “tão consoante com a nossa índole literária”. Inspiração essa que seria claramente visível em Alberto de Oliveira, “que viria a ser o mais típico dos nossos parnasianos”, e em Olavo Bilac, cujas Poesias seriam “o mais acabado exemplar do nosso parnasianismo”.[20]
Péricles Eugênio da Silva Ramos, embora também se mantenha na esteira do artigo de Machado sobre “a nova geração”, esforça-se para definir a poesia realista segundo o tema e a atitude do poeta, e em aprofundar a descrição, classificando-a em vários veios temáticos. Distingue assim primeiramente a vertente do realismo urbano, no qual “a estética do inventário” seria completa, e que se caracterizaria pelo veio sensual: “a linha sensualista do Realismo brasileiro, isto é, a linha de Carvalho Jr e Teófilo Dias, explica ainda certas notas do nosso Parnasianismo, como a ‘Satânia’ ou ‘De Volta do Baile’ de Bilac, e não se veria esgotada dentro de um decênio: as Canções da Decadência de Medeiros e Albuquerque, por exemplo, compostas entre 1883 e 1887, ostentam um realismo sexual cruamente exposto.”[21] Define, a seguir, outra vertente realista, a que denomina realismo agreste, e na qual localiza Afonso Celso e Bernardino Lopes. Os demais autores, costumeiramente associados ou à designação “realistas” ou à de “parnasianos”, Silva Ramos os qualifica antes de “decadentes”, identificando neles, como características, o ar “maladif”, o satanismo, a sensualidade sádica, o intuito de profanar e escandalizar e o acentuado espírito de revolta. Seriam eles Teófilo Dias, Carvalho Júnior, Fontoura Xavier e Venceslau de Queiroz.
Com essa operação, Silva Ramos consegue depurar, sem apagar de todo o veio realista, o conceito que lhe interessa de fato, que é o de Parnasianismo. E a forma como o faz é significativa: reconhecendo o papel determinante de Machado no estabelecimento da nova escola, entendida como um novo veio classicista, que recusa os exageros realistas ou decadentes.
Machado aparece duas vezes, com papel decisivo, na história que Silva Ramos traça da conversão do Realismo em Parnasianismo. Primeiro como crítico: os “pontos da doutrina estética de Machado [...] – diz ele – viriam a ser totalmente acatados, constituindo mesmo o dorso da doutrina formal parnasiana”.[22] Depois, como poeta que fixou os traços da nova escola em Ocidentais.
O que mais interessa, dentro do foco desta comunicação, porém, é o duplo movimento que parece ter feito fortuna na historiografia subseqüente. Por um lado, diminuiu-se o alcance e a importância do que foi a poesia indisciplinada, escandalosa e incorreta, denominada “realista” ou, agora, “decadente”. Por outro, descreveu-se o Parnasianismo como sendo uma opção de forma e de língua, pautada pelo ideal de equilíbrio que se deixa recobrir com a palavra “clássico”.
Não deveria surpreender, portanto, que Péricles Eugênio da Silva Ramos acabasse atribuindo, por intermédio de Machado, um papel absolutamente central a Antonio Feliciano de Castilho na definição dos rumos da poesia brasileira do final do século XIX.
Castilho, na sua leitura, é a referência principal para a constituição da poesia de Machado de Assis e, por extensão, da poesia parnasiana brasileira; e é com desassombro que atribui ao Tratado de metrificação portuguesa, publicado em 1851, a força principal que operou a conversão do Romantismo, ainda em vigor no primeiro Machado poeta, para o Parnasianismo, bem como a substituição geral do realismo indisciplinado, desequilibrado e incorreto pelo Parnasianismo sólido e sóbrio.
Essa mediação pareceu e parece historicamente plausível. Tanto que vai  reaparecer numa das mais conhecidas sínteses contemporâneas, a História concisa da literatura brasileira, de Alfredo Bosi, publicada em 1970. Assim:

O que, entretanto, sela a constância do parnasiano em Alberto de Oliveira é a fidelidade a certas leis métricas que a leitura de Castilho (Tratado de versificação [sic]) e dos franceses mais rígidos como Banville e Heredia pusera em voga e os conselhos acadêmicos de Machado de Assis tinham vivamente estimulado.[23]

O papel conservador de Machado, no que diz respeito aos rumos da poesia brasileira do final do XIX, seja como poeta, seja como crítico, está ainda por ser conciliado com a sua apresentação como autor “realista”. Um “realista” que se opôs frontalmente, em todos os campos, ao “realismo”.
Foram várias as formas de solução desse impasse historiográfico.
A mais comum delas consiste no escamoteamento da postura anti-realista de Machado nos anos de 1870 e 1880, reconstruindo, para uso interno, uma oposição realismo/naturalismo, na qual Machado ocuparia o primeiro pólo, que acaba sendo uma espécie de naturalismo mitigado.
A segunda forma de resolver o impasse é mais radical: consiste na simples retirada de Machado de Assis da seqüência cronológica da narração histórica. É o caso de José Veríssimo, que faz do capítulo sobre Machado o último do seu livro, procedimento que não terá tido pouco peso no tom algo melancólico que domina uma história que tem assim o seu fim, ou pelo menos o seu ápice, antes do tempo em que se dá a narração. E é também o caso de Nelson Werneck Sodré, que trata de Machado no penúltimo capítulo do seu alentado volume, sob a rubrica “interpretações do Brasil”, no qual a obra de Machado é apresentada e avaliada, depois do Naturalismo e do Parnasianismo, juntamente com as obras de Joaquim Nabuco, Lima Barreto e Euclides da Cunha.
A terceira é a empregada por Alfredo Bosi, e consiste em dissolver a especificidade da poesia do próprio Machado, sequer o listando entre os poetas no capítulo dedicado à poesia parnasiana, e em radicar na “profundidade”  e “universalidade” da sua obra o seu caráter “realista”.
Finalmente, no encerrar dos anos de 1970 a militância anti-realista de Machado será historicamente situada, como um eco da doutrinação da Revue des Deux Mondes, “para a qual Realismo, democracia, plebe, materialismo, gíria, sujeira e socialismo eram parte de um mesmo e detestável contínuo.” E também o seu apelo reacionário: “A norma é antimoderna em toda a linha. A recusa da matéria baixa leva à procura do assunto elevado, quer dizer expurgado das finalidades práticas da vida contemporânea.”[24] As frases são de Roberto Schwarz, que, dando uma volta à própria formulação, vai propor a melhor e mais engenhosa maneira de solucionar o impasse historiográfico. Nas suas palavras, “havia da parte de Machado uma intenção realista neste anti-realismo conservador, se o considerarmos expressão de experiência e ceticismo – o que não era na Europa, onde representava um recuo intelectual – em face do cabimento das idéias liberais no Brasil”. E assim, por conta do que denomina “inautenticidade do nosso processo cultural”, e por conta de as idéias liberais estarem aqui “fora do lugar”, o anti-realismo se torna uma forma surpreendente de realismo, ou adequação da forma ao real, por conta do mútuo “atraso” e deslocamento.
Uma conjunção da primeira e da terceira estratégias produz o senso comum que aflora tanto na cultura escolar brasileira, quanto na maioria dos textos acadêmicos em que o período realista é abordado. Mas é quarta estratégia a que mais frutos produz no terreno da academia.
Indepentemente do que possa ser, afinal, o “realismo” da prosa de Machado, no que diz respeito à sua poesia e à sua ação para a consolidação de um determinado tipo de poesia a que se chamou aqui “parnasianismo” o quadro não deixa de ser curioso. Numa visada geral, se tivéssemos de decidir quem terá vencido a “Guerra do Parnaso”, que terá sido a nossa Questão Coimbrã, seria difícil fugir a esta conclusão: o romantismo de forte sabor classicista, cujo modelo é Antonio Feliciano de Castilho, a quem Machado denominava, em 1875, “poeta egrégio”, “mestre da língua” e “príncipe da forma”.[25] De modo que, se não na história do romance, ao menos na história da poesia brasileira, o realismo parece ter sido mesmo apenas uma breve irrupção, depois da qual a tradição foi retomada, como queria Machado em 1878.
Uma descrição benévola do que foi a poesia brasileira do século XIX poderia celebrar uma linha direta dos Primeiros cantos às Americanas, prosseguindo pelas Ocidentais e desaguando na obra de Raimundo Correia ou Olavo Bilac, momentos de apogeu e de triunfo do apostolado machadiano. Uma descrição menos favorável destacaria a componente esteticamente reacionária do neoclassicismo de Castilho, perpetuada na periferia do mundo da língua portuguesa, graças ao conservadorismo católico, que dissolveu, aqui, o ímpeto reformador da poética realista.
A questão é, claro, ociosa. E é ociosa também porque nenhuma dessas descrições vigorou até este momento. O alinhavamento mais comum da história literária brasileira passa pelo caráter ostensivamente conservador atribuído a toda a poesia pós-romântica, conseguido por meio da subsunção das várias linhas realistas no Parnasianismo, do qual prudente e tacitamente se exclui Machado. Prossegue com a apresentação dos deméritos do academicismo parnasiano, continua pela invectiva à decadência do momento epigônico “pré-moderno”, e termina com a narração heróica do advento modernista, isto é, a sua celebração como momento de resolução de impasses e de inauguração de uma nova era de autonomia e maioridade nacional, numa linha evolutiva na qual Machado é o momento anterior mais alto e mais conseqüente.
A forma como Machado foi recuperado para o “realismo”, para a “brasilidade” e para a “modernidade modernista” por uma série de operações críticas, e a maneira como a sua crítica ao romance de Eça passou a ser entendida como a crítica ponderada de um “realista” a um “naturalista” constituem o capítulo seguinte desta história, que se desencadeou com a publicação do romance do autor português.
Como também pertence a um outro o desenvolvimento de dois palpites, para transformá-los em hipóteses de trabalho. O primeiro é que Machado de fato viveu em 1878 um impasse e uma crise, mas um impasse e uma crise propriamente literários: como abandonar a linha romântica desenhada de Ressurreição (1872) até Iaiá Garcia sem adotar a forma e o estilo do romance realista? A segunda é que Machado teria de fato posto em prática o que reclamava no final da resenha de O Primo: voltou ele mesmo a beber as águas de Garrett e Herculano (e até águas situadas mais acima na corrente, como as de Sterne e De Maistre) para dar a volta em ficaria assente a sua genialidade, com Memórias póstumas de Brás Cubas.
Mas, justamente por serem parte de um próximo capítulo, já não cabem nesta comunicação, que aqui se encerra contentando-se com ser uma contribuição à história da recepção do romance de Eça no Brasil e de algum rebatimento da questão coimbrã nas letras brasileiras, bem como uma breve especulação sobre o papel de Machado de Assis na definição dos rumos da poesia pós-romântica, por meio do combate à veia baudelaireana ou realista e da prescrição sistemática da correção métrica e do bom gosto de sabor classicizante.
 ---------------------------------------------FIM------------------------------------------
Mais imagens curiosas:

Anúncio do lançamento do livro de Machado, na época da chegada de O Primo Basílio.






Começo do artigo de Machado em O Cruzeiro




Nota de A Revista Ilustrada, de 27 de abril



Anúncio no jornal O Besouro



Detalhe do canto inferior direito do enorme jornal lido no anúncio reproduzido acima


Ecos do Basílio e da "sensação nova" em anúncios. No caso, no Diário do Rio de Janeiro, 31/5




O Besouro, 1 de junho
-------------------------------------------------------APÊNDICE--------------------------------------------------------------------
TABELA GERAL (MAS NÃO EXAUSTIVA) DAS PUBLICAÇÕES REFERIDAS NO TEXTO E OUTRAS, NÃO REFERIDAS MAS RELEVANTES PARA AFERIR O "BASILISMO"



DATA
ÓRGÃO DE IMPRENSA
TÍTULO
AUTOR
ASSUNTO
25 mar

Gazeta de Notícias

“Cartas portuguesas”

Ramalho Ortigão
Crítica ao romance
06 abr

O Besouro

S/t
“A. Praia”
“Tudo aquilo são cenas que podem um dia acontecer entre mim e V. Exa.”
12 abr

Gazeta de Notícias

“O Primo Basílio”
“L.”
(Ferreira de Araújo)
Crítica ao romance
13 abr

O Besouro

“Depois da leitura de OPB de Eça de Queirós”
Rafael
Bordalo Pinheiro
Charge: o primo Quincas que volta de Paris
16 abr

O Cruzeiro

“Literatura realista – O Primo Basílio, romance do Sr. Eça de Queirós – Porto – 1878”
“Eleazar”
(Machado de Assis)
Crítica ao romance
20 abr
O Besouro





Gazeta de Notícias
“O que fez o Primo Basílio no Paraíso”





“Ainda o Primo Basílio”

“Dr. Calado”





“S. Saraiva”
(Henrique Chaves)
Historieta. Diálogo de Basílio com Pio IX e trocadilho com a ‘sensação nova’.




Discussão do artigo de Eleazar.
23 abr
Gazeta de Notícias
“Palestra”
Luís de Andrade
Artigo com trecho dedicado à crítica do romance
24 abr
Gazeta de Notícias
“Eleazar e Eça de Queirós – Um crítico do Primo Basílio”
“Amenophis-Effendi”
(Ataliba Lopes de Gomensoro)



Discussão do artigo de Eleazar
27 abr
O Besouro
“Literalogia – Casamento do Comendador Mota Coqueiro e de Iaiá Garcia”


“Ao L. da ‘Gazeta’

“Qual é o maio defeito do ‘Primo Basílio’?”


“Aos entusiastas do Primo Basílio”


“Aos maldizentes do Primo Basílio”

Bordalo Pinheiro




Jeremias

“Dr. Calado”



“Um bom guarda nacional”


“Um bom pai de família”
Charge: o Primo Basílio aparece no casamento de conveniência da Iaiá e diz que ela lhe vai dar ‘sensações novas’


“As botas de Eleazar”

Discussão do romance e das críticas ao livro.



Poema satírico.



Poema satírico.
28 abr
Gazeta de Notícias
“A semana”
“F. de M.”

Crônica: “o basilismo alastra por toda parte”.
30 abr
O Cruzeiro

Eleazar
2o artigo de Eleazar (Machado de Assis)
03 maio
Gazeta de Notícias
“Uma das razões de um decreto – Ainda Eleazar”
“Amenophis-Effendi”
(Ataliba Lopes de Gomensoro)
Resposta ao segundo artigo de Eleazar.




04 maio
O Besouro
Anúncio de capa – homem lendo

“Eça de Queirós”

“Zumbidos”



Bordalo Pinheiro

“D. Jaime”
Propaganda c/ ref. ao Primo

Homenagem: desenho de página inteira, com personagens do romance.

Crônica: “epidemia” de basilismo.
08 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso em Portugal” – Aos vates da Paulicéia
“Três estrelas do Cruzeiro”
Poema à “escola que fez Basílio
09 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso em Portugal” – Auto da fé
“Quatro estrelas do cruzeiro”
Poema em louvor da “idéia-nova”

10 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso” – Missiva a Lopes Trovão
“Veteranos do Romantismo”

Poema
11 maio
O Besouro


Revista Ilustrada

Diário do RJ
“Depois da missa”


s/t


“A guerra do Parnaso” – “Em vão, ó musa...”
“O Mateus Aguiar”

s/a


“Flor de Lis”
Poema satírico contra Eleazar


Comentários ao anúncio da peça


Poema
12 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso” –
Eu nunca me assinei
romântico...

“Seis estrelas do Cruzeiro”
Poema em favor da “moderna idéia”: “se não tenho na estate a triste Nebulosa, / As Falenas do Assis...
13 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso” – Realista e romantismo
“Erckeman- Chatrian”
Poema pró-realismo
14 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso” – D. Juan
Theophilo Dias

15 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso” – No meu bairro
Arthur Barreiros
Poema: “Um pálido Basílio, um sacudido moço...”
16 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso” – Arredai! Arredai...
“Arnaldo Colombo” (?)
Poema pró-realismo
17 maio
Diário do RJ



A lanterna
“A questão do Parnaso” – Tu



“De quinta a quarta”
V. Magalhães
(Valentim Magalhães)

“Ninguém”
Poema pró-realismo



Crítica à Gazeta  por se ocupar tanto de O Primo
18 maio
O Besouro





Diário do RJ
“Teatrologia”


“já está fora de moda”


“A guerra do Parnaso” – Romântico
Bordalo





Lins D'Albuquerque
“O Primo Basílio nos mostrará o que são sensações novas”.

comentário


Poema: “anda por toda a parte / A namorar as Helenas
19 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso” – Velha romanesca em cena
“Prudhome”

Poema anti-romântico
20 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso” –As três estrelas do Cruzeiro
“Castor e Pólux”

Sátira do romantismo
21 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso” – Novo ideal não force...
“Ernestinho”

Sátira do realismo
22 maio
Diário do RJ
“A questão do Parnaso” – Musa romântica
“Lírio Branco”
(Alberto de Oliveira)
Sátira da musa romântica
25 maio
Revista Ilustrada
 S/t
S/a
Comentário a mudanças no comportamento de “Eleazar-o-jovem”, que parece correr o risco de tornar-se republicano ou realista.




26 maio
Diário do Rio de Janeiro
“Um reposteiro ao Primo Basílio – esboço crítico-realista” – primeira parte
“Neotes”
Artigo crítico sobre o romance.

27 maio
Diário do Rio de Janeiro
“Um reposteiro ao Primo Basílio – esboço crítico-realista” – conclusão
“Neotes”

01 junho
O Besouro
“A Luiz Furtado Coelho”




“A Guerra no Parnaso”



“O primo Basílio”


“À musa realista”
“À musa retumbante”
“À musa romântica”
S/a




Pietro Nervi



S/a




S/a
“só as almas fortemente temperadas ... resistem à torrente invasora do que se chama realismo”

Poema satírico, dirigido a Luiz de Campos, “escravo do Junqueiro”.

Crítica à encenação da peça


Sátiras aos estilos
04 junho
Diário do RJ
 “Guerra do Parnaso” -
“Elias da Fonseca” (Demerval da Fonseca?)
Poema pró-romântico.
08 junho
O Besouro
“Leituras só para homens”

Nota sobre Eleazar e o calembourg
“Kit”

“Charbovary”
Refere o anúncio do Diário.

15 junho
O Besouro
“Modelo da escola realista”


“Modelo da escola lírica”
“D. Filho, o lírico”

“D. Filho, o realista”
Sátira das polêmicas da Guerra do Parnaso




06 jul
O Besouro
“A nova sensação (A propósito do ‘Primo Basílio’)”
Carvalho Júnior
Soneto


18 jul
O Besouro
“Ilmo. Sr. Conservatório”


“No rink – (Nova sensação)”


“O Primo Basílio”
“Julião”


“K. Marão”


s/a
Sobre a encenação de O Primo Basílio.

Poema: “Um Basílio patinando...”

Crítica à peça.

26 ago
Diário do RJ
“Vende-se”


S/a
Sátira do romantismo
02 set.
bro
Diário do RJ
“Empresta-se”



“Richepin & Frank”
Sátira do realismo



[1]  No dia 28 de fevereiro, segundo Guerra da Cal; no dia 21, segundo o artigo de Ramalho Ortigão.
[2] A respeito da recepção do romance na imprensa carioca, consulte-se o excelente trabalho de Francisco Maciel Silveira, no Suplemento ao Dicionário de Eça de Queirós (Lisboa: Editorial Caminho, 2000), nos verbetes “O Primo Basílio: uma campanha alegre” e “O Primo Basílio: uma sensação nova na imprensa carioca em 1878”.  Este texto, que retoma ambos os verbetes, pretende ser, no que diz respeito ao levantamento documental, uma contribuição ao que neles veio já disposto, por meio da inclusão, no quadro, principalmente dos textos da Guerra do Parnaso, do texto de Neotes, todos do Diário do Rio de Janeiro.
[3] Em outras ocasiões, ocupei-me especificamente desse texto: “Introdução” a O Primo Basílio. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001; “Eça e Machado: Críticas de Ultramar”. Cult - Revista Brasileira de Literatura, n. 38. São Paulo: setembro de 2000.
[4] Repr. in Obra completa, p. 989.
[5]  Esse apólogo relativamente insosso – curiosa e, quanto a mim, inexplicavelmente – é apontado por Bosi como um dos indícios da profunda mudança de rumos da obra machadiana, que se dará com Memórias póstumas de Brás Cubas. Cf: Bosi, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1975, p. 198.
[6] De fato, no dia 4 de abril, um anúncio em O Cruzeiro trazia o seguinte texto: “Iaiá Garcia por Machado de Assis – Este formoso romance, que tanta aceitação obteve dos leitores do ‘Cruzeiro’ saiu agora à luz em um nítido volume de mais de 300 páginas. Vende-se nesta tipografia, rua dos Ourives n. 51 e em casa do Sr. ª J. Gomes Brandão, rua da Quitanda n. 90”.
[7] Bandeira, Manuel. Poesia da fase parnasiana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996, [1a ed: 1938].
[8] Repr. in Obra completa, p. 993. O pseudônimo que assina o poema é retirado do diálogo. Trata-se de um sujeito que D. Laura diz ter sido espoliado pelo próprio genro.
[9] Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882). A nebulosa, 1857.
[10] Falenas, 1870.
[11] Desde o título é sensível aqui a presença de Cesário Verde, cujo “Num bairro moderno” tinha sido publicado pouco antes, em O Cruzeiro, no dia 17 de abril de 1878.
[12] Bandeira, Manuel. Antologia dos poetas brasileiros. Poesia da fase parnasiana.Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1996, p.7.
[13] Logo após transcrever um poema, anota ironicamente: “assim escrevia, muito pouco parnasianamente, Arnaldo Colombo, no dia 16 de maio etc”.
[14] “Não é outra coisa o final do ‘Interior’, aqueles cães magros que ‘uivam tristemente trotando o lamaçal’. Entre esse incidente e a ação interior não há nenhuma relação de perspectiva; o incidente vem ali por uma preocupação de realismo; tanto valera contar igualmente que a chuva desgrudava um cartaz ou que o vento balouçava uma corda de andaime. O realismo não conhece relações necessárias, nem acessórias, sua estética é o inventário. Dir-se-á, entretanto, que o Sr. Alberto de Oliveira tende ao Realismo? De nenhuma maneira; dobra-se-lhe o espírito momentaneamente, a uma ou outra brisa, mas retoma logo a atitude anterior.” OC, p. 826.
[15] Entrevista em Terra Roxa e outras Terras, setembro de 1926, p. 4.
[16] Obra completa, p. 919 e 920.
[17] Obra completa, p. 913-4. Sem dúvida que o ponto do conselho diz respeito à questão brasileira, porque o componente essencial e eterno, por pressuposto, existe em todas as literaturas, o que tornaria dispensável a citação dos nomes dos poetas a continuar.
[18] Ramos, Péricles E. S. Panorama da poesia brasileira. Parnasianismo. Riod e Janeiro, Civilização Brasileira, 1959; Ramos, P. E. S. “A renovação parnasiana”. In Coutinho, Afrânio (org.) A literatura no Brasil – Vol. 4, Era Realista – Era de Transição. Rio de Janeiro: José Olympio, 1986, 3a ed. (1a ed.: 1955-1959); Do Barroco ao Modernismo – estudos da poesia brasileira. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1967.
[19] Veríssimo, José. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1969, 5a ed., p. 241 e 242.
[20] Op. cit., p. 243.
[21] “A renovação parnasiana”. In A literatura no Brasil, cit., p. 99.
[22] Ibidem, p. 111.
[23] Bosi, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. Op. Cit., p. 249.
[24] Schwarz, Roberto. Ao vencedor, as batatas. São Paulo: Duas Cidades, 1977, p. 65.
[25] “O visconde de Castilho”. Texto publicad na Semana Ilustrada, em 4 de julho de 1875.